quinta-feira, 19 de dezembro de 2019


Conto de Natal

Ao acordar ao som do despertador, sorri de alegria por ter que esperar só mais um dia.
Saí da cama e vesti-me com as primeiras roupas que apanhei. Revistando a cozinha à procura de algo para o pequeno-almoço, decidi-me por uma taça de cereais e umas sobras de pizza da noite anterior. Depois de ver desenhos animados, jogar alguns jogos de vídeo e conversar on-line com alguns amigos, ocorreu-me de repente que não tinha comprado um presente para a minha mãe. Era véspera de Natal e as lojas iriam fechar dentro em breve. Enfiei uns sapatos, agarrei na minha prancha de skate e lá fui eu para o centro comercial.
Abri a pesada porta de vidro para entrar no centro comercial e defrontei-me com uma visão inacreditável. As pessoas corriam em pânico por todo o lado, tentando encontrar o presente perfeito para os seus entes queridos. Era a loucura total. Decidi começar a abrir caminho através da multidão, quando um homem de casaco preto se dirigiu a mim e, com uma voz desesperada, me disse que tinha perdido a carteira. Antes que eu pudesse dizer uma só palavra, pôs na minha mão um cartão-de-visita cinzento.
— Por favor, telefone-me para o número que está no cartão se, por acaso, a encontrar — pediu.
Olhei para ele, encolhi os ombros e respondi:
— Está bem, assim farei.  
O homem virou-se para abordar outra pessoa e eu fui tentar encontrar o presente para a minha mãe. Procurei por todo o lado, mas sem sorte nenhuma. Finalmente, quase mesmo no fim do centro, vislumbrei uma pequena loja de antiguidades e artigos de arte em vidro. Pareceu-me que poderia ter algo de interessante — algo diferente do que eu tinha visto em todas as outras lojas. Como não tinha nada a perder, entrei.
Havia papéis e caixas por todo o lado, arremessados por pessoas em busca da prenda perfeita. Enquanto tentava abrir caminho através daquela pilha de coisas, tropecei numa caixa no corredor e caí. Quando peguei na caixa para a repor na prateleira, reparei numa embalagem verde e plana escondida por trás do papel de embrulho. Abri-a e encontrei um belíssimo prato de vidro com a imagem de um presépio. Ali estava ela, a prenda perfeita, atirada para o meio do lixo à espera de que eu a encontrasse.
Sorri abertamente, agarrei no objeto e dirigi-me à caixa. Enquanto a empregada registava a minha compra, pus a mão no bolso para tirar o dinheiro. O meu bolso estava vazio! Comecei a remexer em todos os bolsos quando me apercebi de que tinha deixado a carteira em casa. Esta era a minha última oportunidade de arranjar uma prenda para a minha mãe! O centro comercial fechava dentro de dez minutos e eu levaria vinte minutos para ir até casa e voltar. Comecei a entrar em pânico.
Fiz, então, a única coisa de que me lembrei naquele momento: corri para fora da loja e comecei a pedir dinheiro às pessoas. Algumas olharam para mim como se eu fosse louco; outras ignoraram-me. Finalmente, desisti, e atirei-me para cima de um banco, sentindo-me totalmente derrotado. Ao reparar que um dos meus sapatos tinha os cordões desatados, baixei-me para os apertar.
 De repente, vi uma carteira castanha mesmo ao lado da perna da frente do banco. Pus-me a pensar se poderia ser a carteira que o homem de casaco preto tinha perdido. Abri-a e li o nome que constava na carta de condução. Sim. Era dele. Quando descobri lá dentro trezentos dólares, a minha boca abriu-se de espanto.
Sem qualquer hesitação, procurei um telefone público e fiz uma chamada a pagar no destino para o número no cartão-de-visita cinzento. O homem atendeu e disse que ainda se encontrava no centro comercial. Feliz e aliviado, perguntou se eu podia ir ter com ele a uma sapataria que, por acaso, era precisamente ao lado da loja de antiguidades. Quando lá cheguei, o homem estava tão entusiasmado que me agradeceu vezes sem conta, enquanto verificava se o dinheiro e os cartões de crédito ainda lá estavam dentro.
Virei-me para sair do centro comercial e regressar a casa, quando senti uma mão no ombro.
— Acho que nunca encontrei um miúdo como tu, que devolvesse todo esse dinheiro quando podia ter ficado com ele e ninguém se teria apercebido — disse o homem.
Depois, abriu a carteira e estendeu-me quatro notas de vinte dólares, agradecendo-me de novo. Agradeci-lhe, excitado, e disse-lhe que tinha que me apressar para comprar a prenda da minha mãe antes que o centro fechasse.
Comprei o prato de vidro e fui para casa. De repente, fez-se luz na minha cabeça e compreendi que tinha sido uma espécie de anjo do Natal para o homem que tinha perdido a carteira, e que ele tinha sido o mesmo para mim quando eu tinha esquecido a minha. “Anjos a dobrar!” pensei. Tinha a certeza de que nunca iria esquecer aquela véspera de Natal enquanto fosse vivo.
Na manhã seguinte, a minha mãe abriu a minha “prenda milagrosa” e o seu olhar revelou o quanto tinha gostado dela. Contei-lhe tudo o que tinha acontecido quando tentava encontrar a prenda ideal e a história ainda tornou o prato mais especial. Guarda-o ainda hoje.
O prato fá-la lembrar de mim, claro, e continua a lembrar-me de que podem acontecer coisas espantosas quando menos esperamos. Especialmente durante essa época especial chamada Natal.
David Scott
in, https://preparandonatal.wordpress.com/2019/11/15/anjos-a-dobrar/#more-2042

























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