sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Os meninos da rua

O pai do Carlos travou o carro bruscamente: uma criança tinha atravessado a rua sem olhar. Ao travar, o pai do Carlos salvou-lhe a vida.
Rapidamente, Carlos, Mariana e o pai saíram do carro para ver o que tinha acontecido. Nunca imaginaram que nesse encontro casual viveriam uma história que nunca iriam esquecer.
Delicadamente, o Carlos ajudou o menino a levantar-se enquanto lhe perguntava o que é que lhe tinha
acontecido. O menino, muito assustado, pensou bastante antes de responder e, depois, com uma voz muito suave, contou-lhes que vivia com a sua avó e que, para poder comer, pedia esmola, embora o que realmente quisesse fosse trabalhar. “Sempre quis trabalhar, mas não consigo nada, estou nervoso, tenho fome, por isso atravessei a rua sem olhar.”
Carlos olhou para ele e apercebeu-se de que, provavelmente, teria a mesma idade que ele; não podia entender que houvesse um menino esfomeado num país como o seu, que um menino andasse à procura de trabalho em vez de estar na escola.
Recordou, então, a imagem daqueles senhores que, durante as campanhas eleitorais, se fotografavam junto às crianças para favorecerem a sua imagem.
Mariana pensou muito antes de falar e, quando quis fazê-lo, as lágrimas que silenciosamente lhe brotavam dos olhos, impediram-na.
Foi então que o pai, passando um braço pelos ombros do menino, lhe disse: “Nós vamos ajudar-te. Mas será melhor que voltes para a escola, porque se não estudares, amanhã, os teus filhos pedirão esmola como tu estás a fazer hoje.”
Dito isto, anotou o endereço do menino e prometeu-lhe que os visitaria no dia seguinte, para conversar com a avó e tomar as medidas necessárias para que voltasse a estudar.
Depois de se despedirem do menino, os três entraram no carro e Mariana perguntou:
“- Os outros meninos que pedem esmola… não os podemos ajudar também?”
Ao que o pai respondeu:
“- Ninguém no mundo pode ajudar toda a gente, mas toda a gente no mundo pode ajudar alguém. Nós começamos hoje com este menino, outros o terão feito antes ou fá-lo-ão amanhã. O privilegiado deve ser generoso para com o desfavorecido, pensar que tudo muda, constantemente, que ninguém tem um lugar fixo nesta vida, e o que é mais importante é que, colaborando, contribuindo com o nosso pequeno grãozinho de areia, conseguiremos entre todos fazer um mundo melhor e mais justo, onde não haja crianças que acabem com fome debaixo das rodas de um carro.”
As crianças escutavam o pai, em silêncio, orgulhosos. E sonhavam com o dia seguinte, sabendo que o melhor que lhes poderia acontecer seria terem um novo amigo e que haveria um menino a menos na rua. Sim, era assim que devia ser.

Pancho Aquino

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